Arte que vale ouro
Matheus Pereira
| 11-12-2025

· Equipe de Fotografia
A arte de rua já foi algo que as pessoas raspavam das paredes. Agora? Ela aparece em museus de classe mundial e é vendida por preços que poderiam comprar uma casa.
Como chegamos aqui? Vamos entender como o grafite e os murais evoluíram de atos de desafio para símbolos de cultura, protesto e até luxo.
Onde tudo começou
Tudo começou de forma discreta — nos metrôs, becos e áreas deterioradas das cidades. Nas décadas de 1970 e 1980, a arte de rua surgiu em lugares como Nova York, Filadélfia e Londres. No início, era principalmente a prática de deixar assinaturas — uma forma de artistas, muitas vezes jovens e sem voz, marcarem sua presença.
Nem sempre era sobre arte. Era sobre ser visto. Essas primeiras intervenções não eram bem-vindas. As cidades as pintavam por cima, a polícia perseguia os artistas e o público via aquilo apenas como “vandalismo”. Mas, para muitos, as ruas eram seu único espaço de criação.
Eles não podiam pagar por galerias, e as instituições tradicionais de arte frequentemente não representavam suas vozes.
Mais do que tinta Spray
Com o tempo, a arte de rua amadureceu. Artistas como Jean-Michel Basquiat e Keith Haring começaram fora do sistema — em calçadas e paredes de metrôs — mas suas obras transmitiam mensagens poderosas: sobre raça, amor e a vida urbana.
Aos poucos, as pessoas começaram a perceber a habilidade, a paixão e o propósito por trás da tinta. A arte de rua evoluiu de assinaturas rápidas para murais detalhados, estênceis elaborados e instalações multimídia. Ela deixou de ser apenas rebeldia e se tornou uma forma de contar histórias.
Um modo de protestar. Uma forma de revitalizar espaços esquecidos. E, acima de tudo, uma maneira de se conectar com o público sem precisar de permissão.
Banksy e o ponto de virada
Se existe um nome que colocou a arte de rua sob os holofotes globais, é Banksy. O misterioso artista britânico ganhou destaque com obras ousadas e satíricas — de ratos segurando placas a peças que se autodestruíram em leilões. Banksy borrava a fronteira entre rua e galeria. Suas obras passaram a ser emolduradas, removidas de paredes e vendidas por milhões.
As pessoas começaram a perceber: talvez aquilo não fosse apenas “grafite”. Talvez fosse arte moderna. Esse momento marcou uma virada. Galerias, museus e colecionadores começaram a buscar outros artistas de rua.
Festivais de arte urbana surgiram pelo mundo — de Berlim a São Paulo e à Cidade do Cabo — convidando criadores para pintar murais em grande escala de forma legal.
O bom, o ruim e o irônico
É aqui que a história fica interessante. O que antes era contestador agora é patrocinado por cidades e marcas. Os mesmos prédios que antes apagavam grafites agora encomendam murais. Os mesmos artistas que eram presos agora são levados ao redor do mundo para pintar paredes gigantes.
É uma reviravolta curiosa: a arte de rua, antes ilegal, agora é lucrativa. Alguns dizem que isso é progresso — artistas finalmente sendo remunerados. Outros afirmam que ela perdeu sua essência, tornando-se comercial e controlada. Mas, de qualquer forma, é inegável que ela transformou o visual e a atmosfera de cidades ao redor do planeta.
Estilos diferentes, mensagens compartilhadas
Dos personagens minimalistas do Japão aos murais expressivos do México, a arte de rua não tem a mesma aparência em todos os lugares — mas fala uma linguagem universal.
Artistas ao redor do mundo usam paredes para expressar o que importa para eles: mudanças climáticas, identidade, moradia, esperança. Mesmo em países onde a liberdade de expressão é limitada, as paredes se tornam uma voz silenciosa. Por meio de cores e símbolos, artistas dizem o que não podem declarar abertamente.
Do beco ao leilão
Então, como a arte de rua passou de algo do qual as pessoas fugiam… para algo que agora atrai viajantes do mundo inteiro? Ela evoluiu. Ficou mais inteligente, mais ousada e mais relevante.
E, talvez o mais importante: ela se recusou a desaparecer. Mesmo quando apagada, voltava. Mesmo quando chamada de “lixo”, artistas criavam beleza a partir do vazio. Hoje, vemos arte de rua na moda, na publicidade e até em livros infantis. Ela está em todos os lugares — não apenas em galerias, mas no nosso dia a dia.
O que você acha?
Você vê a arte de rua como cultura ou como desordem? Acredita que ela deve permanecer crua e rebelde, ou há valor em seu novo status global? Gostaríamos de saber o que você sente ao ver um mural enorme em uma parede da cidade ou um estêncil escondido em um beco.
Isso te inspira? Te faz pensar? Ou você sente falta dos tempos em que a arte ficava apenas em ambientes fechados?
De qualquer forma, é claro: a arte de rua mudou o mundo — e nossas paredes nunca mais serão as mesmas.