Acorde antes do mundo
Matheus Pereira
Matheus Pereira
| 11-12-2025
Equipe de Ciências · Equipe de Ciências
Acorde antes do mundo
Tudo começou com um pedido de café. Eu estava em uma cafeteria, atrasado como sempre, quando notei uma mulher sentada à janela. Caderno aberto. Chá fumegante. Tranquila. Ela não estava com pressa.
Não conferia o celular a cada 30 segundos. Parecia… no controle.
Quando perguntei a que horas ela havia chegado, respondeu: “por volta das 6h30. Agora acordo às 5h15.”
Meu primeiro pensamento? Parece punição.
Mas depois pensei: por que as pessoas que parecem mais em paz sempre começam o dia antes do mundo acordar?
Então decidi tentar. Não para sempre — apenas por 30 dias. Acordar 90 minutos mais cedo. Sem celular. Sem pressão. Só para ver o que aconteceria. Aqui está o que aprendi — além dos clichês.

Não me tornei uma pessoa matinal (e tudo bem)

Vamos ser realistas: ainda não amo acordar cedo. Meu corpo não se reprogramou magicamente. Na primeira semana, eu me arrastava da cama como se estivesse puxando uma pedra ladeira acima. Mas algo mudou no décimo dia.
Em vez de apertar o soneca cinco vezes, comecei a acordar pouco antes do alarme.
Não porque de repente amasse manhãs — mas porque meu corpo percebeu algo diferente: aquele tempo era meu.
“Eu consigo um nível de foco que nunca tive antes na vida, antes de estabelecer esse protocolo matinal”, diz o cientista comportamental Arthur C. Brooks. Isso mostra como rotinas matinais consistentes e intencionais podem melhorar a atenção, reduzir o estresse reativo e ajudar a mente a começar o dia mais centrada.
Esse foi o ponto de virada. Não se tratava de disciplina. Tratava-se de assumir o controle.

O verdadeiro benefício não foi produtividade — foi espaço

Eu imaginava usar o tempo para trabalhar. Escrever. Planejar. Me adiantar. Mas o que eu realmente precisava era de quietude.
1. Comecei a sentar em silêncio por 10 minutos
Sem aplicativo. Sem meditação guiada. Só respirar, observar a luz enchendo a sala. No começo, minha mente corria.
Mas na terceira semana percebi algo: eu não estava repetindo o estresse de ontem. Eu estava apenas… presente;
2. escrevia três frases todas as manhãs
Não era diário. Nem metas.
Apenas:
“sou grato pelo silêncio.”
“Estou cansado, mas compareci.”
“Hoje quero me sentir calmo.”
Simples. Mas me ancorava;
3. me movia devagar
Preparava meu chá. Alongava. Caminhava pelo quarteirão. Sem pressa. Sem podcasts enchendo o silêncio. Só eu e a manhã.
Não se tratava de fazer mais. Tratava-se de ser mais.
E aqui está a surpresa: minha produtividade não disparou — mas meu foco sim. Tomei decisões mais conscientes. Respondi em vez de reagir. Não me senti atrasado o dia todo.
Acorde antes do mundo

Precisei mudar minhas noites para que as manhãs funcionassem

O que ninguém conta: você não pode roubar tempo da manhã sem devolver tempo à noite.
Se eu ficava acordado depois das 22h30, a manhã seguinte era um desastre. Acordava confuso, irritado, e desistia do experimento na minha cabeça antes do café da manhã.
Então precisei ajustar minhas noites:
1. Criei a regra do “sem novas informações” após as 21h
Nada de séries novas. Nada de conversas intensas. Nada de resolver problemas. Meu cérebro precisava desacelerar, não incendiar novamente;
2. carreguei o celular na cozinha
Essa foi a maior mudança. Sem o celular na cama, parei de rolar até meia-noite. Li um livro. Ou simplesmente apaguei a luz;
3. preparei a manhã na noite anterior
Separei roupas. Preparei a caneca do chá. Anotei uma intenção. Assim, não havia atrito — só ação. Você não está construindo um hábito matinal. Está criando um ritmo diário.

O que permaneceu depois de 30 dias

Não me tornei um guru das 5h da manhã. Não treino antes do nascer do sol nem leio 50 páginas por dia.
Mas três coisas permaneceram:
- agora protejo meus primeiros 30 minutos;
- mesmo nos dias corridos, evito o celular e faço algo intencional — chá, escrever, alongar;
- vou para a cama mais cedo — sem esforço;
- porque sei como é uma boa manhã, naturalmente quero protegê-la;
- me sinto menos apressado;
- não porque tenho mais tempo, mas porque começo o dia centrado, não disperso.
Então, você deve acordar mais cedo? Só se não for para “trabalhar mais duro”. Faça isso se estiver cansado de começar cada dia já atrasado. Faça isso se quiser espaço para pensar, respirar ou apenas ser antes que o mundo comece a exigir sua atenção.
Não precisa acordar às 5h. Tente 6h. Ou 6h30. Apenas tente se dar uma hora tranquila — antes que o mundo coloque as mãos em você.
Porque, depois de 30 dias, percebi algo simples:
A paz não vem de fazer mais. Vem de aparecer — cedo e nos seus próprios termos.