Arte sem regras
Gabriel Souza
Gabriel Souza
| 12-12-2025
Equipe de Fotografia · Equipe de Fotografia
Arte sem regras
Ela apontou para a pintura na minha parede e disse: "é bonitinha. Muito… comercial."
Depois veio a pausa — aquela que deveria me fazer sentir envergonhado.
Era uma peça abstrata simples que comprei por 40 dólares. Eu gostava das cores. Deixava o ambiente calmo. Mas, aparentemente, não era "arte de verdade".
Você provavelmente já viu isso também — pessoas descartando escolhas de arte de alguém como baratas, sem alma ou de gosto duvidoso.
Mas a verdadeira pergunta é: quando começamos a decidir o que merece ou não estar em uma parede?

Quem decide o que é "decoração" e o que é "arte"?

Entre em qualquer loja de artigos para casa e você verá prateleiras cheias de paisagens, flores ou abstrações impressas em massa, rotuladas como "decoração de parede". A maioria das pessoas não chamaria essas peças de arte — chamariam de seguras, entediantes ou básicas. Mas por quê?
Parte disso vem de como aprendemos a classificar a arte. Galeria = bom. Museu = melhor. Impressão online = mais ou menos. Qualquer coisa produzida em massa é colocada na categoria "não é arte de verdade", mesmo que alguém tenha dedicado tempo e cuidado à criação.
Essa mentalidade não é sobre qualidade. É sobre status.
Porque chamar algo de "apenas decoração" muitas vezes é uma forma silenciosa de dizer: "eu sei mais do que você."

O gosto pela arte não é neutro — é cultural

A verdade é que nossa ideia de "bom gosto" não é aleatória. Ela é moldada por classe social, educação e acesso. Se você cresceu em uma família que visitava museus, ou estudou história da arte, pode valorizar obras ousadas, estranhas ou minimalistas. Mas isso não torna o gosto de outra pessoa menos válido.
Gostar de uma reprodução melancólica de Monet ou de uma tela florida e alegre de uma loja de móveis não significa falta de bom gosto — significa que você encontrou algo que fala com você. E não é isso que a arte deve fazer?
Algumas pessoas penduram arte porque combina com o sofá. Outras porque lembra casa. Outras porque custou 9,99 dólares e preencheu uma parede vazia. Todas essas razões são válidas.
O problema não está na arte — está na pressão para justificá-la.

Quando o pessoal se torna performativo

As redes sociais não ajudaram. Role pelas contas de design e você verá casas cuidadosamente curadas com peças “impactantes” perfeitamente posicionadas. A mensagem? Sua parede deve refletir não só seu estilo — mas também seu capital cultural.
Isso cria uma vergonha sutil em relação a tudo que é considerado mainstream. Se sua arte não é original, assinada ou pelo menos de uma pequena loja no Etsy, você corre o risco de parecer preguiçoso ou sem sofisticação. Decorar se torna uma performance.
Arte sem regras
Mas pense bem: nem todo mundo quer impressionar estranhos com sua casa. Talvez a pessoa só queira se sentir bem ao entrar.

E se víssemos a arte de parede de outro jeito?

Imagine um mundo em que parássemos de classificar arte por preço, origem ou profundidade percebida — e fizéssemos uma pergunta simples: isso importa para você?
Porque a verdade é que muitas vezes há mais coração em uma tela de 15 dólares do que em uma peça de galeria escolhida apenas para seguir tendências.
Aqui estão três pequenas mudanças de mentalidade para tentar:
1. perceba sua reação sem julgá-la: se você vê a estampa “Live Laugh Love” de alguém e faz uma careta — pare. Pergunte-se por quê. É realmente sobre a estampa ou sobre o que ela simboliza para você?
2. respeite que cada um constrói significado de forma diferente: você pode encontrar emoção no caos abstrato. Alguém encontra na praia ao pôr do sol. Isso não é superficialidade — é subjetividade.
Lembre-se que nem toda arte precisa fazer uma declaração: ás vezes a arte é apenas cor, memória ou conforto silencioso. Nem toda parede precisa provocar reflexão profunda.

Sua parede = sua história

O que escolhemos pendurar é profundamente pessoal. Reflete humores, memórias e, às vezes — apenas uma boa iluminação. Descartar a arte de alguém porque não combina com seu conceito de "bom gosto" diz mais sobre você do que sobre eles.
Então, da próxima vez que entrar na casa de alguém e ver uma tela de folhas douradas ou uma aquarela de skyline urbano, faça uma pausa antes da crítica interna.
Pergunte em vez disso: por que eles escolheram isso? Porque por trás de cada impressão — sim, até as de grandes lojas — geralmente há uma razão. E talvez essa razão mereça tanto respeito quanto uma etiqueta de galeria.